terça-feira, 16 de maio de 2017

Fogão Dako - Tati Quebra Barraco

FOGÃO DAKO - TATI QUEBRA BARRACO

Entrei numa loja
Estava em liquidação
Queima de estoque
Fogão na promoção
Escolhi da marca DAKO porque
Dako é bom
Dako é bom
Dako é bom

Calma, minha gente, é só a marca do fogão!

Certamente, este poema choca qualquer puritano do bom gosto e da boa arte, sobretudo quando o vê tratado como poema. Um lugar comum na teoria literária é definir a literatura a partir do efeito de estranhamento que ela produz na linguagem. Como define Barthes, a linguagem não é nem reacionária, nem progressista, mas fascista, pois o fascismo não é impedir de dizer, mas obrigar a dizer. A linguagem no seu cotidiano leva o falante à aceitação obrigatória de sua estrutura para a completa comunicação, naturalizando e recalcando na linguagem suas taras, neuras, traumas e medos. A literatura é efeito de estranhamento à medida que perturba esta aceitação obrigatória. No caso do poema acima, um produto de consumo com nome "Dako" é disposto de forma tal que na oralidade produz um outro sentido que não o esperado. Este outro sentido, pela própria organização sintática, sexualiza o enunciado e, mais que isso, evidencia uma sexualização não reprodutiva e, portanto, não limitada à norma da heterossexualidade, mas passível de prática independentemente da orientação sexual. O efeito de estranhamento na palavra "Dako" é fazê-la evidenciar as neuras sociais do sexo como prazer que não dependa das instituições como Família, Casamento, Igreja, Estado. Mas, obviamente, continuaremos a dizer que não é poema, muito menos uma letra que seja digna de ser chamada de música, porque ela é negra, periférica, imoral e anárquica. Não aceitamos como poesia, porque reivindicamos uma poesia que não seja perturbadora, que não seja literatura, que não lance em nossa cara os nossos monstros simbólicos. Não aceitamos, porque já admitimos a morte da poesia. Mas, como diz a cantora: "calma minha gente é só a marca do fogão". DARIO NETO.💛

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