“O Trem da Saudade”
Era um trem antigo.
Madeira rangendo, ferro batendo no coração do trilho.
As janelas escancaradas para o tempo que não volta.
Dentro dele, ninguém novo —
só lembranças sentadas, alinhadas, enlutadas,
com chapéus de feltro, vestidos floridos,
olhos marejando o passado.
A cada estação, uma memória subia.
Um cheiro de bolo da avó,
uma carta amarelada de amor,
a voz do pai chamando da varanda
— e até o latido do cão que se foi.
Ele não andava para frente.
Esse trem corria de ré,
como se recusasse o presente,
como se voltasse só pra buscar
o que o mundo deixou cair da mala.
Dizem que, em Macondo,
a Princesa Bárbara embarcou certa vez.
Vestia linho claro, cabelos soltos,
com uma rosa seca entre as páginas de um livro.
E enquanto o trem passava entre desertos, plantações, e fantasmas,
ela acenava para rostos que só ela via.
Uns sorriam, outros choravam.
Todos desapareciam antes da curva.
"O trem da saudade", dizem os poetas,
não tem estação final.
Ele roda eterno, no trilho da alma,
com apitos que lembram cantigas,
e bancos cobertos de pó de memória.
Se ouvir o apito…
não fuja.
Talvez ele venha te buscar.
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