sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

O alexandrino

O alexandrino
perdido nos becos dedáleos
de alexandria odorando a
tabaco e menta
a ranço e lilases languescentes
a gema de ovo apodrecendo com polvejos de canela
a esperma azul-grisáceo-amarelento
um homem de tez oliva
um gerôncio de olho irônico transbrilhante de saberes inusitados
prazeres perversos
e minuciosa (inútil) erudição bibliotecária
mira-me
um velho fitando outro
velho – pressinto
que naquela tavarna penúmbrea
onde se bebe anis e se honora o
absinto onde
algum talvez furtivo narguilê
borbulhe fumo agridoce
coado em úmido láudano – mulheres
gregas altilíneas de narizes retos e
cabelos negro-azeviche em corte à la
garçonne frisando rostos de alvíssima
cútis e / ou call-girls egípcias esfingéticas
professional beauties de olhos amendoados e tez cigana
afloaflando narinas quase-asas na
impecável cosmética dos rostos pupilas
vivazes como áspides sim:
pressinto – e sinto mais além
que garotos bronzeados e suave-
mente musculados adônis-ganimedes
feito o efebo marmóreo de adriano (caesar
romano imperador fileleno)
entram saem açulam-se quase-
-galgos esgalgues aprumando-se
na estação da caça

Konstantinos Kavafis

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