quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Satírico

Satírico 

Todas as mulheres para ti eram sexys e desejáveis 
Tu cobiçavas todas elas fossem formosas ou feiosas
Não tinhas preconceito de cor, todas eram transáveis.
Se eram gordas ou magras, para ti, todas eram apetitosas. 

Corrias atrás das mulheres solteiras, das separadas.
Perseguias as mulheres casadas, as viúvas, as beatas e caretas
As muito jovens, as mais maduras... muito te apetecia as safadas
Transavas com lascívia, satiríase. Armavas diversas mutretas.

E luxurioso sugaste com voracidade a essência delas, 
Sedento, carnal, alucinado te lambuzastes no mel. 
Esfomeado sorveste a seiva do odor feminino em gozadela.
Usastes seus corpos, fizestes um grande forfel.

Amastes majestosamente como se fosses sultão.
Amastes sem castidade e com grandiosa paixão.
Amastes alguma com puro amor.
Amastes dezenas sem muito pudor.

Amastes aquelas com privacidade.
Amastes outras com ambiguidade. 
Amastes umas com muito rumor 
conforme o amor se apresentou.

As labaredas do amor maníaco queimaram intimamente
o âmago da tua amada, mas não te estancou a sexualidade.
Nem mesmo o choro enternecido e o olhar plangente 
da tua benquerente refrearam a tua promiscuidade.

Desenfreadamente sorvestes o cálido amor
que te saciou o desejo carnal, mas não supriu
a tua essência. Para o teu espírito, sobrou desamor. 
Mas ainda te envaideces de tudo o que sucumbiu.  

Umbelina Marçal Gadelha
🌹
Art. (Charles James Lewis)

Poesia apicola


Voando de flor em flor
Fazem polinização;
Desse constante labor
Resulta a fecundação.

Numa caixinha quadrada
Que o homem lhe preparou,
Nela o enxame encontrou
Quadros com cera moldada;
Uma pequenina entrada
Evita algum predador,
Uma rampa tem valor
Para chegada e partida,
Quão é grande a sua lida
Voando de flor em flor…

Crescem a cera fazendo
Com arte e com perfeição
Os favos que mais não são
Que alvéolos que vão crescendo;
Com o mel os vão enchendo
O mel doce que nos dão,
Esses insectos que vão
Aqui e ali procurando
Nas flores sempre poisando
Fazem polinização.

São da colmeia ciosas
Se alguém as for atacar,
Não hesitam aplicar
As picadas dolorosas;
Não são nada carinhosas
Ao defender-se a rigor,
Desde manhã ao Sol por
Vão trabalhando a preceito,
E o homem tira proveito
Desse constante labor.

Há uma abelha rainha
Que é a que põe os ovos,
Logo dão enxames novos
Quando Abril se avizinha;
Procura nova casinha
Esses milhares que então
Dentro em pouco já irão
Trocando o pólen colhido
Nas flores que hão escolhido
Resulta a fecundação.

Autor: JOSÉ DA SILVA MÁXIMO/Santo António das Areias

Fernando Pessoa

Um poema por dia...

#fernandopessoa #poesiaportuguesa #literature #literaturanacional #literaturaportuguesa #portugal #poema #poesia #poetry #instapoetas #instapoetry #instapoeta #instapoem #instapoesia #instapoems #paraportuguesler #poesiaortonima #poetaportuguês #grandespoetas Para Português Ler

Último poema.

ÚLTIMO POEMA DATADO DE RICARDO REIS

Vivem em nós inúmeros;  
Se penso ou sinto, ignoro  
Quem é que pensa ou sente.  
Sou somente o lugar  
Onde se sente ou pensa.  

Tenho mais almas que uma.  
Há mais eus do que eu mesmo.  
Existo todavia  
Indiferente a todos.  
Faço-os calar: eu falo. 

 
Os impulsos cruzados  
Do que sinto ou não sinto  
Disputam em quem sou.  
Ignoro-os. Nada ditam  
A quem me sei: eu escrevo. 

*

13-11-1935

Ricardo Reis

In Ricardo Reis. Poesia. edição de Manuela Parreira da Silva. Assírio & Alvim. 2.ª* edição, junho de 2007.

Imagem: Mário Botas - Mapa da Sepultura do Poeta

Crianças

As crianças são filhos do mundo e são feitas de sonhos, de esperança e de ilusões que constroem em suas mentes livres e privilegiadas.

Sobreviver é histeria

sobreviver é histeria

o que é mais feminino do que ser forçada a ficar sozinha
o que é mais feminino do que não ser capaz de se ver sozinha
o que é mais feminino do que ter medo de ficar sozinha
o que é mais feminino do que querer – e não conseguir – estar sozinha
o que é mais feminino do que sobreviver

o que é mais feminino do que não morrer de raiva
porque ensinar já virou rotina
porque cuidar já virou rotina
porque pedir desculpas já virou rotina

o que é mais feminino do que competir por uma vida que não quer
porque nasceu ou se descobriu mulher
porque querer ser mulher é fraqueza
porque não ser mulher, mas acharem que você parece mulher, é fraqueza

o que é mais feminino do que não ser suficientemente mulher
o que é mais feminino do que não ser suficiente

quando penso em quantas vezes mascarei a compulsão com o fumo
quando penso em quantas vezes cobri o seio para não fechar o punho
quando penso em quantos deles se sentaram ao meu lado sem assunto

eu me pergunto

o que é mais feminino do que o silêncio
o que é mais feminino do que gritar e te mandarem fazer silêncio
o que é mais feminino do que não pedir socorro e te perguntarem
mas por que é que você fez silêncio

Nina Camargo 

Loucura

LOUCURA

Loucura! É não partir à procura!
Desses teus beijos, abençoados.
Dados ao luar, com essa doçura,
Que conforta os lábios sagrados.

Loucura! É não procurar o rosto,
Da humanidade em ti escondida.
E ficar eternamente no desgosto,
De não encontrar sentido da vida.

Loucura! É não partir à procura!
Desse teu corpo frágil e sensual.
Onde está contida a divina cura,
Para o meu ser, efémero mortal.

Joaquim Jorge Oliveira
🌹
Art. (Gustave Jean Jacquet)

Costurando Lindeza.

A gente vai costurando lindezas, colando carinhos, remendando lembranças, cersindo aprendizados, e quando vemos, estamos desfazendo nós e dando lanços...
Assim é a vida
Assim e a amizade
Assim é o amor.
Se não soubermos ajeitar as coisas, contornar situações, engavetar desafetos, e abraçar as diferenças, nunca seremos nada, nunca teremos nada, e o nada simplismente nos esvazia de sentimentos e sem sentimentos nunca seremos coisa alguma, quanto mais alguém.
Construa.
Refaça.
Recrie.
Ame....

Terezinha Costa Honorato 
20/ 11/ 2022
🌹
Art. (Charles Joseph Frédéric Soulacroix) 
-1825-

Mãe 🌹

“Mãe"
.
Por seus filhos deu a vida
Mas a velhice foi-lhe sentida
Na mesa sequer havia pão

Restou-lhe apenas a partida
Sem ninguém prá despedida
Morreu de fome e solidão 
-
Tanta coisa por cumprir,
Sua porta nunca chegou ábrir
Seus filhos seguiram outros trilhos

Anos e anos à espera duma visita, 
Mas a sua morte maldita
Chegou primeiro que seus filhos.
.
José Carlos SC
Escritos Engavetados
🌹