terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Soneto da doce queixa.

Soneto da doce queixa

Tenho medo de perder a maravilha
de teus olhos de estátua, e o acento
que a face me cobre na mantilha
da noturna rosa só de teu alento.

Tenho pena de à beira dessa trilha
ser o tronco sem ramos, e o lamento
de não ter seja flor, polpa ou argila,
para o verme que é meu sofrimento.

Se tu eras meu tesouro que sumiu,
se eras minha cruz, mal afogado,
se sou o cachorro de teu senhorio

não me deixes perder o já ganhado
e decora as águas de teu rio
com folhas desse Outono transtornado. 
Frederico Garcia Lorca.

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