terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Tempo Histórico e Espaço

Tempo Histórico e Espaço:

Os historiadores, além de se preocuparem em situar as ações humanas no Tempo, têm a tarefa de situá-las no espaço. Não se pode conceber um "fazer humano" separado do lugar onde esse fazer ocorre. O ambiente natural ou urbano, as paisagens, [...] as trajetórias, os caminhos por terra e por mar são necessáriamente parte do conhecimento histórico.

Circe Bitencourt

Ensino de História: fundamentos e métodos.

Drummond

Em 1982, Carlos Drummond de Andrade  sentado  num banco  do calçadão da  
Avenida  Atlântica.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Um homem e seu carnaval

Carlos Drummond de Andrade
Um homem e seu Carnaval

Deus me abandonou
no meio da orgia
entre uma baiana e uma egípcia.
Estou perdido.
Sem olhos, sem boca
sem dimensões.
As fitas, as cores, os barulhos
passam por mim de raspão.
Pobre poesia.

O pandeiro bate
é dentro do peito
mas ninguém percebe.
Estou lívido, gago.
Eternas namoradas
riem para mim
demonstrando os corpos,
os dentes.
Impossível perdoá-las,
sequer esquecê-las.

Deus me abandonou
no meio do rio.
Estou me afogando
peixes sulfúreos
ondas de éter
curvas curvas curvas
bandeiras de préstitos
pneus silenciosos
grandes abraços largos espaços
eternamente.

Retrato de Carlos Drummond de Andrade, 1936, Portinari

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Não me prendo a nada que me defina.

Não me prendo a nada 
que me defina. 

Sou companhia, 
mas posso ser solidão. 

Tranquilidade e inconstância, 
pedra e coração. 

Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. 

Música alta 
e silêncio. 

Serei o que você quiser, 
mas só quando eu quiser. 

Não me limito, 
não sou cruel comigo! 

Serei sempre apego pelo que vale a pena 
e desapego pelo que não quer valer.

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. 

Ou toca, 
ou não toca....

(Clarice Lispector)

sábado, 4 de fevereiro de 2023

Sou louco.

EU

Sou louco e tenho por memória
Uma longínqua e infiel lembrança
De qualquer dita transitória
Que sonhei ter quando criança.

Depois, malograda trajectória
Do meu destino sem esperança,
Perdi, na névoa da noite inglória
O saber e o ousar da aliança.

Só guardo como um anel pobre
Que a todo o herdado só faz rico
Um frio perdido que me cobre

Como um céu dossel de mendigo,
Na curva inútil em que fico
Da estrada certa que não sigo.

24-9-1923
Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956